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O pajé que foi a biblioteca viva de saberes das medicinas Apurinã

Neste ano, o pajé é um dos homenageados do Museu Amazônico na 20ª Semana Nacional dos Museus

Publicado em: 31/05/2022

Arywka, ou pajé Leôncio, um dos maiores conhecedores da medicina Apurinã. Foto: Divulgação/Museu Amazônico

Por equipe do OBR-319

Arywka, ou “movimento rápido” na língua dos Apurinã, foi um dos maiores expoentes da cultura deste povo que os não-indígenas puderam conhecer. Também chamado de Pajé Leôncio, a trajetória deste cientista e liderança espiritual dos Popukare, como se autodenominam os Apurinã, está retratada em trabalhos e pesquisas realizadas nas academias dos não-indígenas. Ele é fruto da resistência de sua mãe, a também pajé Kamapa, sobrevivente da política de extermínio do governo brasileiro contra os indígenas do sul da Amazônia durante o Ciclo da Borracha. No dia em deixou seu território ancestral, a mãe de Arywka viu muitos parentes morrerem lutando, mulheres mortas e estupradas, malocas incendiadas, crianças esfaqueadas. Os poucos que conseguiram escapar fugiram pelos rios, igarapés e locais debaixo da terra.

Arywka nasceu em 1924 na região do rio Sepatini, que fica no que conhecemos hoje como o município de Lábrea (AM), era o mais novo de cinco filhos. Desde cedo, sob orientação de sua mãe, aprendeu a usar o que a floresta oferece para o bem-estar e cura de doenças. Não tardou em se tornar uma biblioteca viva do conhecimento ancestral do povo Apurinã. Com o apoio de antropólogos do antigo Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e professores da Universidade Federal do Acre (Ufac), viajou para diversos locais do Brasil coordenando cursos para a formação de sabedores das ervas medicinais e curando indígenas e não-indígenas. Ele foi o responsável pela popularização do Awyry, o rapé verde, principal elemento da medicina Apurinã.

Em 2012, dois anos antes de se encantar, Arywka foi homenageado com uma sala de exposição permanente sobre a cultura Apurinã no Museu Amazônico da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em Manaus (AM). O local foi eleito pelo próprio pajé como um espaço sagrado. Neste ano, ele é um dos homenageados do Museu Amazônico na 20ª Semana Nacional dos Museus. O pajé começou a frequentar o local em 1997, vendendo ervas e realizando atendimentos. Certa vez, durante uma exposição intitulada Memória Amazônica, uma jornalista perguntou a ele o que achava da mostra. Ele respondeu que ao ver adereços do povo Apurinã expostos no local, ficou imaginando como aquelas coisas teriam chegado até ali e chorou.

Com informações da dissertação do pesquisador Alan Miguel Alves, intitulada “Maloca das Medicinas e sua Relação com o pajé Arywka”, e do Museu Amazônico da Ufam.

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