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A árvore símbolo do rio Manicoré

Publicado em: 01/08/2022

Árvore copaíba-jacaré às margens do rio Manicoré. Foto: Izabel Santos/OBR-319

Por Marta Pereira* 

A resistência está pelo rio Manicoré em toda a sua extensão, sobretudo na força dos seus moradores, mantida pela tradição agroextrativista e pela floresta, onde escolhemos uma árvore que representa com louvor essa potência: a copaíba-jacaré, como é chamada pelos moradores locais a Eperua oleifera. Uma árvore exuberante e de grande porte que só existe na Amazônia brasileira e, até onde se sabe, em floresta de terra firme no Amazonas. Ela ocorre ao longo do rio desde sua foz até próximo às cachoeiras, suas flores lilases enfeitam as margens e se destacam em meio ao vasto tapete verde da floresta.

A escolha da copaíba-jacaré como representante da flora do rio Manicoré foi feita de comum acordo com os moradores locais, quando eu e minha equipe estivemos por lá, a convite do Greenpeace Brasil, para realizarmos o inventário de fauna que deve embasar o plano de gestão do território. Para nós foi um prazer poder contribuir! A copaíba-jacaré, bem como a suas flores lilases, deve ilustrar a capa do inventário que está em produção. O desenho da flor foi gentilmente produzido pela bióloga Thamires Macedo, que além do talento científico, também é uma exímia artista. 

Ilustração da copaíba-jacaré feita pela bióloga e mestranda em Botância, Thamires Macedo.

A natureza fala por si e a presença da copaíba-jacaré ao longo do rio Manicoré nos mostra que o território, apesar de todas as pressões que sofre, ainda é bastante conservado. O que é uma das evidências de que os moradores locais contribuem sobremaneira para esta manutenção da floresta, pois a árvore produz uma resina, mais grossa que a resina da copaíba que conhecemos, que os comunitários misturam com breu e utilizam para calafetar canoas, o meio de transporte mais utilizado no local. Para isso, eles não derrubam as árvores, pelo contrário, as conservam. 

O desmatamento e o colapso climático ameaçam drasticamente a existência desta árvore: quando derrubada, junto com ela, morrem centenas de outras árvores, e por só ser encontrada em áreas alagadas, o aumento do tempo da cheia ou a diminuição dele pode causar a morte dela. 

Manter os exemplares de copaíba-jacaré em pé contribui para a manutenção da floresta, porque ela serve de habitat para outras plantas e milhares de outros organismos e, também, ajuda a fixar o nitrogênio no solo, tornando-o mais fértil. Assim, é de extrema importância a execução de ações que garantam a conservação do território do rio Manicoré e a manutenção do modo de vida dos seus moradores.

*Marta é botânica pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa) e pelo Instituto de Botânica da Universidade de Liège, na Bélgica. Desenvolve pesquisas sobre plantas medicinais e bioprospecção e, atualmente, é professora na Universidade do Estado do Amazonas (UEA) onde, entre outras disciplinas, dá aulas de agroecologia.

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